segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sobre a memória dos cheiros
O olfacto é um dos sentidos mais primitivos no homem, e estarmos atentos aos cheiros é uma reacção primitiva e instintiva de nos apropriarmos e relacionarmos com o que nos rodeia.
Definitivamente, o olfacto não é o meu melhor sentido, mas guardo na memória imensos cheiros que evocam outras tantas recordações.
Enquanto que poderemos confundir um som ou esquecer-nos de uma imagem, há quem diga que a memória dos cheiros é infinita. As pessoas ao cheirarem algo, a sua memória irá guardar esse aroma para sempre e jamais se esquecerá dele, guardando na memória as suas características assim como as lembranças com eles relacionadas, remetendo para os momentos em que foram vividos.
Os aromas não entram só pelo nariz. Alguns deles fixam-se na lembrança para sempre e tocam directamente ao coração, estabelecendo uma ligação profunda com a nossa parte emocional.



Apesar de muitas vezes distante, são também muitas vezes os cheiros que me mantem presente.
Desde quase sempre, quando ia à aldeia de férias, eram sempre os cheiros que me propocionavam a melhor recepção de boas-vindas. E das alturas que gostava mais era no Inverno.
Nessas alturas, destas e doutras chaminés e chupões, naquelas noites sossegadas em que o fumo pairava sobre a aldeia, conseguia ir buscar o cheiro da lenha ardida nas lareiras e dos peguilhos que lá se encontravam a assar. Sinto saudades desses cheiros e desses tempos!
Como de outros aromas que já não cheiro há muito tempo, mas que estão tão vivos como outrora e que tantas boas recordações muitas vezes me oferecem: o cheiro da cevada acabada de segar; o cheiro do Sebastião que tantas vezes toquei pela rédea ou o cheiro fresco da terra molhada.


Eu sabia da existência deste tipo de chaminés de telha, mas esta descobri-a por acaso ao deambular pela aldeia. Nada mais simples do que duas telhas ao alto e encostadas, onde o engenho aguçado pela necessidade permitia que o fumo lá se esgueirasse por tão singela saída.
Agora continuo a estar distante, mas os cheiros da aldeia já pouco me atraem, antes pelo contrário.
Ainda ontem, quando à noite, em família tentavamos passar uns momentos à fresca em amena cavaqueira, eis que surge de repente, tocado pelos ventos de Benlhevai pela fragada abaixo, aquele aroma pestilento e nauseabundo que tira logo a boa disposição à gente.
Se no Inverno ainda se tolera pelo recolhimento a que somos obrigados por via do frio, agora no Verão em que as casas estão insuportavelmente quentes, não se pode estar na rua de maneira nenhuma.
E então não se faz nada? Vamos deixar a continuar a sermos incomodados pelo mau estar daquele cheiro pestífero? Julgo que se trata de uma questão de saúde pública.
Relembro que poderemos usar o site http://www.autarquias.org/ para não nos deixarmos apascentar por algo que nos perturba.


"O perfume permanece como a forma mais tenaz da memória"
Marcel Proust

8 comentários:

bacão disse...

Se bem o pensaste... melhor o disseste... agora só já falta actuar!!!
O facto de se ficar impávido e sereno perante tamanho atentado à liberdade de se apanhar ar, faz com que se mereça aquilo que se tem!!!
O povo unido ou os seus representantes há muito que deveriam ter tomado posição e actuado!!!
Não sei o que cheira pior: se a indiferença... se a pestilência carregada pelo vento!!!

O PIAÕZAO disse...

talvez será a indiferença, eu por mim falo. Acredito que nao seja por mal mas cada vez que eles mexem no estrume... em fim ca estamos nós pra apanhar com ele (o CHEIRO e que agora temos de ter cuidado com o que dizemos hehehehehehe) mas como o bacao diz temos de actuar mas nao pactuar. Quem sabe se se de uma maneira mais mediactica nao o conseguimos, só tenho pena que os cheiros nao passem pela televisão.
Mas sei perfeitamente o que tu mou primo queres dizer com os cheiros ainda hoje me lembra o autentico perfume de uma linguissa assada no meio das eiras em pleno inverno com fogo feito de caixas de frutas que se desfaziam em madeira e que depois ninguem sabia quem as (roubou), coisa que hoje é quase impossivel pois o famoso plastico substituiu esses autenticos molhos de lenha.
quem sabe se essa jente nova nao aprende os costumes de nós os (cotas) que eram muito saudaveis e até bastante educativos.
Em fim só digo que pena tenho que a nossa aldeia seja cada vez mais um canto com muitos cantos, e nao ser a maior aldeia com tudo o que de bom podia existir quer fosse cantares grupo de teatro etc...
Só mais uma axega e desculpem se sou extenso que e feito das meninas que vendiam cravinhos presos com alfinetes que deambulavam pelo meio da festa??
sou mais novo mas ainda me lembra disso.
Há ja sei agora em vez disso cortam na casaca umas das outras e ficam pela, cultura trapista da moda.
COISA FEIA MEUS AMIGOS
pessoal tenham um pouco de coragem e tentem educar os mais novos a ser mais off line dos computadores e playsations e mostrem que o nosso pequeno mundo a que chamamos aldeia seja outra vez o jardim da vilariça

fernando almeida disse...

Sem duvida que tem aqui um velo blog mas a minha pergunta e se vai colucar as fotos dos anddores da festa de sao bernado 2010 e que eu fiquei bastante intereçado na beleza dos santos e como faram enfeitados na festa de 2009 pedialhe que as coloca-se tal como em 2009
com comprimentos fernando alameida

manel zé disse...

Ó bacão

as tuas palavras são por demais elucidativas sobre o que realmente se passa.
Eu não acredito que haja alguém que possa ficar indiferente à pestilência carregada pelo vento. Mas também não quero acreditar que todos queiram ficar indiferentes à vontade de agir para tentar resolver uma questão que, já deveria estar resolvida há muito tempo.

manel zé disse...

Ó piãozão

gostei da tua ideia de que a "é
pena tenho que a nossa aldeia seja cada vez mais um canto com muitos cantos". Se em vez disso se conseguisse congregar esforços e vontades comuns, talvez se conseguissem revitalizar ideias e projectos de outrora. Doutra forma será difícil.
Também gostei da ideia do grupo de cantares e mais tarde será lançado aqui o repto do qual deste a ideia.
Quanto às meninas que vendiam rosinhas também eu me lembro. Provavelmente era uma boa forma de angariar mais uns fundos para a comissão de festas.

manel zé disse...

Olá Fernando Almeida

a seu tempo lá surgirão as fotos da procissão deste ano, pois não poderíamos deixar passar esse momento onde realmente se pode apreciar a beleza dos nossos andores.
abraço

duarte disse...

sobre a memória dos cheiros:
Recordo-me das minhas vindas da émigração e do cheiro da casa da minha avó, do cheiro das roupas que ela usava de cada vez que vinha do monte... do aroma das flores da primavera, laranjeiras de abril pintadas, da promessa de frutos em cerejeiras.
sobre o cheiro:
pouco há a dizer , foram feitos esforços junto de alguma comunicação social(agencia lusa), depois de diversos telefonemas deparei-me com a inércie já comum por estes cantos. Eramos dois a falar com uma jornalista.
O esforço não vai acabar por aqui(embora tenha ficado com algumas reservas quanto a algumas pessoas ), vai circular um abaixo-assinado que espero poder fazer chegar a muita gente que por cá passa e passou. ainda não sei muito bem como irá suceder tal coisa(pois isto das novas tecnologias não é o meu forte) irei necessitar do apoio assim como do conhecimento , como tambem da colaboração activa dos interessados( que penso que sejamos todos os que cá moram ou os cá têm raízes, como os que por cá passam algum tempo).
duarte no vale farto de cheiro .
abraço.

manel zé disse...

ó duarte se bem que haja pouco a dizer, muito mais haverá a fazer, pois não se deve suportar mais essa situação intolerável que gera tanto mau estar e desconforto ... e tudo o que deva ser feito só se deve fazer a pensar no bem estar dos nossos conterrâneos que não obrigados ao bombardeamento constante dessa pestilência.
como disse, o olfacto não é o meu melhor sentido, e daquela vez fui obrigado a meter-me em casa para atenuar os seus efeitos, mas sei de quem até tenha que fechar portas e janelas porque até o cheiro entranho dentro de casa é insuportável ... quer dizer, somos obrigados a recolher-nos a casa e ainda por cima com tudo cerrado. dessa forma temos a nossa vida condicionada e confinada pelo estupor do cheiro.

aja-se!